sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Já?


 
Pela manhã, depois do café, escolhi um poema para postar no Essentiae. Um soneto de comemoração. Postei nas redes e respondi uns recados. Desde fevereiro, data do início do tratamento, tenho sentido que, lentamente, alguma metamorfose acontece. De inseto a homem. Acho que não pega bem falar sobre assédio feminino num mundo misógino como este. Aprendi minha lição. Pretendo reescrever o texto. (Se você leu antes de ser deletado, me perdoe: sou uma marionete do exagero.)
Primeiramente, pensei em criar um heterônimo. Escrever com liberdade e veracidade factual, sem me preocupar com os envolvidos. Mas não. Qual a graça de relatar a obviedade dos fatos sem pincelar nenhum traço de cor ou de brilho? Fico com meu nome. Criemos outros signos: será mais belo assim, será um exercício de ética. Entendo o que me disse um amigo sobre achar meu caminho, como Paulo de Tarso, entendo tarde. Já garotiei demais.
Sempre um estrangeiro. Onde quer que se vá, o outro nos incomoda — em sua constância ou não constância. Queremos mesmo é nos satisfazer, preencher as lacunas, quando a solidão está por toda parte. Ser objeto e tornar objeto, ter controle. Então me resta afundar a cara na literatura, na clássica majoritariamente. Ando, como antes, cansado de mim. Penso em aumentar a dose da medicação por conta própria… Se eu por vezes não me suporto, devo entender a resistência alheia a mim, pôr meu violão nas costas e me calar. Se eu não me suporto, como não entender que minha ausência é benéfica? Vê que estou pirando novamente? A próxima consulta é na sexta que vem.
 
Tashaki Miyaki - Take My Breath Away

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