quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Vamos Sair da Linha?

Central do Brasil, RJ

 
Agora tô dando uma de moderninho. Deu vontade. Está bem claro, para nós, que a vida é curta demais para tanta vontade, essa vontade de potência, que nos eriça os pelos da nuca. Não é que na juventude eu não tenha experimentado, na verdade, eu era meu próprio experimento. Recordo as prosas colegiais que pegaram o retorno na circular, capotaram e se levantaram versos. Versos colegiais. Hiperfoco monotemático. Mudemos pois. Então falemos da vontade. Donde vem esse desejo que nos toma tão sexual, digo, literal? Não é como se, ao despertar, depois de irmos ver como vai o tempo pela janela, decidíssemos que falta literatura no mundo, e que somos a solução... Trata-se de uma pretensão lunática. Como já disse a uma querida amiga: "escreve quem carece de caráter". Calma lá, desvio de caráter no bom sentido! É preciso ser a dissimulação encarnada para produzir um texto convincente. Quem nos pediu poemas, sentenças, orações? Alguma literatura já teve sucesso nesse mundo? Se sim, por que estamos nesse estado de nihil sináptico contemporâneo? Ok, aqui fui tendencioso e pessimista. Tem gente que gosta de escrever por aí. (Estou falando de você.) Quem sabe se aquela pessoa deseja ser ouvida? Alguém que se debruce ao seu lado sobre o abismo e tente ver se ele olha de volta para os dois. Escritores querem ser ouvidos. Querem ouvir. Alguns contentam-se com o eco da própria voz. Outros fazem da voz alheia a sua. Tento me distanciar dos extremos. Nada de over. Vou ficar pianinho. E se eu tiver que sair da linha, espero que valha mesmo a pena, e que seja contigo, ok?

Me veja nos seus olhos
Na minha cara lavada
Me venha sem saber
Se sou fogo ou se sou água

Angela Ro Ro - Amor, Meu Grande Amor

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