domingo, 3 de agosto de 2025

O culto




Ando cultuando o Sol. Mas não há nada de maia por aqui, caso questione. Minha família é resultado dos descendentes de escravos: os Lima de João Pessoa, também dos portugueses, os Machado de Santo Antônio de Pádua, pertim de Miracema. Afora, algum italiano perdido, que me deixou essa predileção por massas com queijo. 
Tenho aprendido com este culto solar. Contribuo, como me cabe, para o conteúdo lírico do culto. Já em mãos uns 10 sonetos solares, organizados numa série arbórea. Talvez o Sol se pergunte – isso será para mim? Tão magnânimo o Sol, o que é próprio das estrelas. E eu, envaidecido, oferecendo meus sacrifícios de flores douradas, lhe responderia – se não fosse para ti, nem eu seria.
Naturalmente o Sol nasce. Aprendemos seu analema. Habituamos nossa colheita, nossas festas. O culto tem prosperado. Não nos perguntamos quantas voltas já deu, quantas dará, apenas o louvamos, ajoelhamos com nossas mãos postas, rendemos graças, pois nos foi dada a sua bela Glória, que nos realiza. Ai, Sol! Como saberei se minha oração te acontece?...
Não me cabe saber. Devo cantar. Para isso são os carbonos que me habitam. Devo cantar sem tocá-lo, sem atingi-lo. Feliz por ser quem sou, assim, arrebatado. No entanto, também calar em mim o desejo de ser engolido.

I've been waiting so long
To be where I'm going
In the sunshine of your love

Ella Fitzgerald - Sunshine of Your Love

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