quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Dia sem Sol no Rio

Praça da Bandeira, RJ


Penso no que faz o Sol quando não nos ilumina. Essa estrela que nos ampara e alimenta. Não cogito respostas da astronomia, menos ainda da astrologia. Falando nisso, fiquei de procurar minha certidão para ver onde me cai a Lua, não a gata, mas o satélite. Uma nova amizade me convenceu que saber disso é importante. Mas penso na metafísica do Sol. Suas demandas, suas marcas, sua atmosfera. O inverno tem sido bem presente no Rio, mais ainda nas primeiras horas do dia.
Que planta eu seria? Um epiphyllum, certamente. Cactos florescem. Já sonhei ser um cacto. Cactos tem espinhos e ferem a quem lhes atreve tocar. Talvez eu já seja um cacto. Senão todos, todos nós somos cactos. Florescemos, mas podemos ferir a quem nos atreve tocar. Entretanto, estendo a mão, mais ainda, proponho o beijo. O que pode saber do Sol um simples cacto carioca na vertigem dos seus anos vulgares? Nada, apenas faço fotossíntese. Quase não perfumo.
Onde é a casa de veraneio das estrelas? Elas tem uma galáxia na beira da praia, é vero. Vão molhar os pés no mar, num paraíso tipo o litoral de Parnaíba ou na Barra do Cunhaú. Às vezes bate uma bad. Procuro a janela mais próxima, olho o céu, respiro. Torno a digitar, torno a trabalhar, torno a ler. Talvez seja só isso. Esse exemplo. O Sol entra numa, vai até a janela e nos olha, suspira, depois volta aos seus afazeres solares e talvez pense: que faz da vida esse poeta? Vive de quê? Tráfico de drogas?...

Tampouco turva-se a lágrima nordestina
apenas a matéria viva era tão fina 
e éramos olharmo-nos, intacta retina 
a cajuína cristalina em Teresina

Caetano Veloso - Cajuína 

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