quinta-feira, 24 de julho de 2025

Rita Lee




Eu fui criado entre muitas mulheres. Um ambiente de salão de beleza. Dona Mãe sempre sonhou voltar aos seus tempos áureos — a sua mítica Escola de Cabeleireiros. Enquanto isso, ia abrindo salões no subúrbio do Rio. Muitos, pra não dizer a maioria, faliram. Dona Mãe era trabalhadora sim, mas seu gênio com tendências tirânicas atraía somente as amigas masoquistas. Diferente das clientes que eram compostas do mais variado estilo, inteligência e personalidade. Ouvi suas histórias. Eu era muito atento. É impressionante você ver e ouvir uma mulher em seu ambiente confortável, entre outras, a comentar sobre qualquer assunto, tendo como principal o casamento, os filhos. As notas que eu tomava eram especialmente dúbias e nebulosas, muitas delas só fui entender anos depois, muitas delas eu não entendo hoje, muitas delas acho que nunca vou entender! Mas nada me impede tentar. E como eu tento. E é maravilhoso tentar entendê-las. Por isso não creio em homens poetas. Como assim? Que isso tem a ver? Você pode perguntar. É direito seu perguntar. É simples responder — um homem enxerga a beleza de forma muito objetiva. Mas a mulher, graças a Deus, é muito diferente! Oh, eu ouvi um aleluia?! 
Aí temos a Rita Lee. Na época da Rita Lee dizia-se que para fazer o rock, um bom rock, tinha que ter culhões! E ela, saída dos Mutantes, vulgo clube do bolinha de ácido, provou que não é só possível fazer o rock, um bom rock sendo mulher, como é também possível ser melhor num nível que até me constrange descrever. Tanto que os Mutantes sem a Rita Lee ficaram tipo os X-Men sem a Tempestade — Uma bosta! E quem me conhece sabe que é nas descrições que tento esconder minhas tristezas. Adoro a Rita, ela merecia que eu escrevesse sobre ela em uma noite diferente desta. Essa noite, servida de muita estupidez e pouca paciência, um composto perigoso nas mãos de um homem primitivo como eu, logo me dá vontade de bater no peito e balançar meus galhos. Para mim não é possível fazer um bom rock, porque tenho esses benditos culhões.

No ar que eu respiro 
eu sinto prazer 
de ser quem eu sou 
de estar onde estou
agora só falta você

Rita Lee & Tutti Frutti - Agora só falta você

7 comentários:

Sonya Azevedo disse...

Excelente! Saudades da Rita e de suas magníficas músicas! Muita luz e paz. Um ótimo domingo.

Davi Machado disse...

A Rita era demais, né?
Um domingo iluminado para você, Sonya!

Suellen disse...

Amei o texto! Já ouviu Rita cantando com a Pity?

Davi Machado disse...

Não lembro, vou dar uma pesquisada.

Davi Machado disse...

https://www.youtube.com/watch?v=KVPJQgk2BF4
Show!

Alessandra Espínola disse...

tb adoro a Rita Lee, uma coisa, e ela me ava como chuvarada em dias agitados. em dias rebeldes ( que é a vida minha toda), amo Rita, amei que tu escreveu uma nota so dela.

Davi Machado disse...

A Rita era demais! Talentosíssima.