quinta-feira, 31 de julho de 2025

Repeat




É tão bom quando descobrimos uma música que vibra na nossa frequência. Costumo esgotar totalmente o repeat com elas. Meu recorde, segundo o Last.fm, é com a If You Don't Know Me by Now, a versão do Simply Red — 125 vezes. Provavelmente, um laço atrelado ao casamento da minha irmã. Lembro que a filmagem teve Simply Red como fundo.
Eis a complexidade do over. Essa, que também se estende às outras áreas. Culinária — já passei meses almoçando banana-da-terra assada na manteiga, com ovo e pimenta. Livros — teve um semestre que reli Da Costa e Silva tantas vezes o quanto nem me atrevo a numerar. Trabalho — houve um tempo que só conseguia exercer bem minha função, se antes, carburasse um beck. Percebe, né? Trata-se, talvez, de um distúrbio compulsivo. 
Assim, também, funciono com as pessoas. Apaixono-me, de fato. E ponho-as no repeat. Quero sorvê-las a inteireza, quero tocá-las nos seus defeitos, nos seus carinhos. Mas há ruído. Aqui, entre sentenças e ajustes sintáticos, me desenrolo sob controle, atrelado à escrita. Um ticos truncado, rude, porém cristalino. Pois gosto de me acreditar assim. Mas aquele meu eu-deslírico me sabota constantemente. Diz não diz. Surta-se. Impede-me a rigidez. É o meu espantalho na colheita das horas.

Just get yourself together
Or we might as well say goodbye
What good is a love affair
When we can't see eye to eye?


4 comentários:

Anônimo disse...

Acho bonito a forma que vc se expressa. Bom domingo, Davi!

Izabela Cosenza disse...

Hiperfoco no que faz sentido. Até o sentido mudar para o próximo som, livro, pessoa. É um jeito de caminhar.

Davi Machado disse...

É complicado quando não sei se estou sufocando a pessoa foco, diferente de um tema, de uma música.

Davi Machado disse...

Valeu, Melissa. Ótimo domingo pra você!