quarta-feira, 16 de julho de 2025

A Nova Morte


Cruz e Sousa em Broquéis

 
Deixamos as solenidades dos ritos de passagem. É um sinal concreto o fato de que, para bem ou mal, vivemos mais do que nos tempos de Cruz e Sousa. Que bad vibe a da Morte. Se antes ela, com suas manias de nos matar, estava sempre presente, cheia dos badulaques e grinaldas de renda preta, vinha em corcel alado, trocava figurinhas com Emily Dickinson, tomava chá com Antero de Quental, era musa de muitos drogados como eu... hoje passa quase despercebida, uniformizada a caráter, uma tarjeta no peito escrita: Morte, número de inscrição: 001, olheiras, coque desfiado, hálito de nicotina, um mau humor de proletária sem sindicato, liga de madrugada para seu único amigo, Caronte, aos prantos, pois vendeu suas férias, pegou covid na pandemia e continuou trabalhando, a coitada!
Não há mais pompas, menos ainda quem use a palavra "pompa", e tudo bem, pompa é broxante mesmo. Porém, à custa de uma pompinha de merda, todo um arsenal de ombros de gigantes é jogado na sarjeta do olvido? Ah, não, cara, aí é pedir demais desse seu desumilde aluado. Afinal, é para isso que estamos aqui, para deixar para trás o supérfluo e inovar! Não há tempo para despedidas ou para ler sequer uma sentença, é preciso ser útil, digo, viver! Mas tanto faz, né? É preciso a tragédia para a beleza emergir, mesmo que seja do esgoto. Então tome este relato como argumento inútil, como a arte.

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