quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Amarelo




Abre-se o chão em dentes enferrujados. Mordidas eternas – meu corpo dilacerado tomba. Rezo. Minha servidão me concede um pertencer. Fluxo negativo. Meus órgãos expostos – arte vermelha! Eu, que nunca fui pouco tolo, dou com a cara no espelho e violentamente quebro minha imagem...

Lô morreu, Jards também, êta mês bom de acabar! E né que terminei Gógol e fui direto para Mary Shelley? Já viu o Frankenstein da Netflix? Del Toro se superou nessa. Muito maneirim. Acho que eu só precisava de um pretexto para ler outro clássico, né? O livro começa epistolar, achei charmoso...

Pretendo dar seguimento a essa coleção da Zahar, achei lindo demais a diagramação, a fonte, o papel, tudo um conforto só. Legal também a capa amarela que alude à cor da criatura que, pasme, não é verde. No mais, tô relendo Da Costa e Silva, aquele simbolista do Piauí. Só o diabo entende dessa nostalgia.


segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Teatro completo




Começa outra semana, já, já é Natal. Época boa. Por aqui volta a nostalgia, o cheiro de livro novo: o presente mais que perfeito. Gostaria de compartilhar minha wishlist da Amazon com meus familiares. Mas lembro que há mais de 20 anos não passo o Natal com meus familiares. Arre, bichin do mato! Este caipira gosta de ficar na sua choupana! Fuma seu pito do pango, fuma! A vida fica mais leve ou só estou alto mesmo?

Meu Amor divide a wishlist da vida comigo. Estou à espera do meu primeiro Tolstói. Decidi ler em ordem cronológica também. Acho que fui influenciado pela Tatiana Feltrin, aquela booktuber famosa. Sobre ela tive o desprazer de saber da sua posição política ligada à direita, e até um flerte com a extrema direita, confirmado pela sua resenha de um livro do Olavo de Carvalho, esse que faz uns anos que não abre a porra da boca, amém.

Pessoas não são fórmulas matemáticas, obviamente. Tatiana não tem culpa de ser de direita, essa posição condiz com sua posição social, tão ligada aos prazeres da vida burguesa, Tatiana tem seus motivos, tivesse crescido em favela talvez teria outros. Fora acolhida pela direita, foi o que ela disse... Agora aguardo a consulta da minha irmã. Os ipês de Botafogo estão todos verdes, ainda bonitos, ainda bonitos...
 
Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei, não sou perfeito
Eu não esqueço

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Doppelgänger blues



 
Nunca quis ser outro. Estava satisfeito e completamente ciente de que estava vivo. É provável que existisse qualquer reclamação pelo trânsito, o rumo da esquerda. Totalmente aceitável que também se desagradava de um ou outro livro. Mas ser outro? Não definitivamente.

Nunca foi o mesmo. Está em constante estado de aluno e por raros instantes é possuído de luz e transborda, veja que o faz conscientemente. Vez em quando tromba em si. Olha-se ao avesso envaidecido. Oferece um trago. Já não se sabe qual é qual. Escrevem o mesmo livro e assinam o mesmo nome.

Nesse papo a dois nos pegamos pensando. Que será que se passa na cabeça de uma Musa? Você nos entende? Você mesmo que nos lê! Deve ser uma barra ser descrita por um poeta, não esses aí que não sofrem, mas um autêntico dramático, doente, apaixonado, neurótico e bom cozinheiro. 
 
 

sábado, 25 de outubro de 2025

Elis 1972 remixremaster

 


 

Sabe, eu sou da opinião de que o pós-punk é um amálgama de estilos que conversam entre si. A característica dele que mais curto é o estilo do baixo — o baixo elétrico que, quase sempre, aparece com um riff simples e hipnótico. Tem algo de tribal nessa tag. Não sei especificar com exatidão o que seria. A identidade está na cozinha: percussão e contrabaixo. 

O teclado é outro exemplo de protagonismo instrumental. Ele preenche o ambiente com textura, cor e temperatura. Aí deu um estalo! Eu devia ter saído para caminhar. Pra que serve saber que porra é pós-punk no Brasil? Eu deveria estar falando do que estou sentindo? Sabe quando você encontra alguém que te faz querer ser mais de você? 

Amar é tão fácil. Não existe o manual do amor. Ele é fácil. A gente simplesmente sabe com quem contar. Gostaria que você pudesse experimentar isso — se já não o conhece bem. Olha pelo lado positivo: consegui desenvolver o assunto nestes três malditos parágrafos que este servo agora tem de fazer, pois assim fica “mais bonito”. Só o diabo sabe o que eu acho ou não acho bonito

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Sobre eventos e bookmarks

 


Ontem fui a um evento no ExpoRio. Obviamente para acompanhar minha Princesa C. Levei um livro e fones. Foi interessante e previsível, muito embora sejam quase antônimos esses adjetivos. Hoje tô um caco: sem fome, sem luz, sem viço, sem alma. Não ouço, não leio, não falo, vagueio. E tudo bem, né? É claro que do alto desses 38 anos já conheço minhas estações. O outono é passageiro, tudo se renova no tempo certo. Então dou um jeito de distrair meus demônios, faço versos... 
Aprendi muito bem como me portar e ser recíproco. Sei o que esperar dos resíduos dessas interações. Bem, estava quase chapado, o que me fez viajar pela Rússia de 1845. Cansei da França, cansei. Tive também um tempo para repensar amizades digitais. Sinto falta de uma em específico: I. C. Venta forte lá fora e as árvores do condado acenam. Tenho vontade de falar com I. C. Entender onde errei, ser claro, sem reticências. Mas o silêncio comunica bem. Também é resposta para tantas questões...
Me indignei por esses tempos. Em toda vasta Shopee não existe mais que uma pessoa comercializando marca páginas de Dostoiévski. Oh, pai, por que me abandonaste? Então abri o Canva e fiz eu mesmo uns 5. Acabei pegando gosto e fiz mais 5 para a Princesa C. dos seus prediletos: Pedro Bandeira, Aghata Christie, Betty Boop, Nelson Rodrigues e Donzela do Inferno. Para sua irmã L., uns 4 da Tomi Adeyemi. Espero que essa morbidez de agora não fique por muito tempo. Vem, Primavera. Meus olhos estão eclipsados.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Instagram?




A arte está onde o povo está. Com essa máxima dou início à nova onda de textos desse espaço, esse desdiário passional. Quando voltei ao Insta percebi que há "blogs" lá, uma comunidade literária enorme, povinho que gosta de ler clássicos, assim como este servo. E por incrível que pareça, pois parece, houve certa aceitação da minha arte, o que me deixa eufórico, tendo em vista o prazer quase sexual que tenho em ser lido.
Vamos hiperfocar em quê? Este servo indaga! Por que não a Rússia? Sim, a Rússia. Enveredei pela coleção leste da Editora34, e meu leitor(a), que deleite! Dostô, Gógol e Tolstoi dançando a macarena no meu sótão. Convenci minha Princesa C. a ler também, e lá foi ela toda delícia com Gente Pobre na mão. Não gostuei, asmei! E o neopostpunk russo? Molchat Doma, maconha e O Capote de Gógol; outro trio dançante, haja sótão.
Não abandonei aqui, mas ando deveras dividido. A rigidez me fez focar tanto nesta plataforma que não pude ver o que perdia pelo lado de lá. Ouvi, outro dia, uma singela anedota da minha crush, prof. Lúcia Helena Galvão: "Um homem passa pela janela da sua casa e flagra sua esposa cavalgando no vizinho no sofá. Ele brada: – resolverei esse problema! venderei o sofá! As redes não são o problema! Estamos culpando o sofá." Ah, Lúcia Helena, que luz!

Ты же не видишь меня, ты же не знаешь кто 
яTy zhe ne vidish' menya, ty zhe ne znayesh' kto ya

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Bossa de setembro



Acontece da gente se apaixonar. A gente se pega pensando demais na imagem, essa imagem que moldamos a nosso gosto. Seja um livro, um jogo, um disco, uma pessoa, um autor. Nos apaixonamos. Imagino que há explicação neuroquímica para esse estado mental, mas tendo a conjecturar que se trata de um estado de possessão, dada a educação neopentecostal que sofri. Conjecturas: a paixão dos ansiosos não tratados.
Apaixonei-me por uma poetisa uma vez — Florbela Espanca. Dado o seu estado avançado de putrefação, aceito que aquela paixão caía no terreno platônico. Obsessão consumada numa constante engenharia reversa, essa que coloquei para rodar em seus versos, estudando-os com recorrência. Florbela casou-se algumas vezes. Algo que me causou certo ciúme, lá no eu de 20 anos atrás...
Hoje eu amo Florbela. Não há mais sofrimento por ser tão real essa nossa realidade. Não sonho mais ser seu 4° marido. Acontece que tomei ela pelos versos. Sabemos quais dificuldades ela tinha, moderna e feminista que era, naqueles tempos da Primeira Guerra. A amo. Aceito a impossibilidade de tê-la, de pertencer, e fiquei bem; demorei tanto tempo para entender que ter é menor que estar.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Sobre Rimbaud


 
 
Estou neste estado. Imitando silêncios. Você teve o que teve. Assim, na lata. Achava mesmo que este servo não pronunciaria as tais palavras? As disse muito bem ditas. Não me culpo nem nada do tipo.
Percebo que o silêncio é necessário; poderia perceber mais tarde, e o estrago seria mais devastador. Mas em tempo! Não quero ser torrente, não. Agora é só garoa, neblina leve e tênue. O prazer da viagem pela viagem. É aquilo — dê no que der.
É tempo de mudanças. De pôr o pé no freio. Selecionar. Ser gênese. Dizer algo qualquer e sair pela tangente. Mas não, não senhora. Eu fico. Eu sou de ficar. De permanecer, de tentar consertar. Eu não me importo em ser ferido. Eu quero entender. Esqueço de ser entendido. Contudo, só agora aprendo a desistir.
 
 

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Psycho

 
 

 
É quase 19h. Faz tempo que tô chutando latinha. Preciso ligar pra minha tia, avisar que vamos lá na sexta. Mas algo me impede. Tento abrir a boca pra dizer qualquer palavra, e nada. Um simples áudio me deixa bolado. Digo: "vamos aí na sexta!" ou digo:"podemos passar aí na sexta?
Tento algumas vezes, até me conformar com um. Envio. Vejo as redes. Por acaso mudo a foto do perfil. Rápido vem alguém e comenta na foto: "a cara do psicopata!" É impressionante como esses amigos antigos podem resumir a tua pessoa numa simples sentença. Na escola, por um tempo fui chamado de: "O Demônio", assim mesmo com o artigo definido em caixa alta.
E fico com esses nós. O que me põe nesse lugar de esquisitice é justamente o que me envaidece de orgulho. O que será que me entrega? Talvez o olhar. Não parece natural. Talvez as coisas que acho belas. Nos tempos de soldado eu tava passando por uma fase gótica, muito Siouxsie and the Banshees, Sisters of Mercy, Cure, muita noite pondo o cachorro quente todo pra fora no Garage. Deve ser isso. O meu eu psicopata ficou nesse recorte e pra esses amigos ainda sou o mesmo de 2006. Lá eu queria ser o Lou Reed, mas tava virando o Júpiter Maçã no Matador de Passarinho.

I feel fine and I feel good
I'm feeling like I never should
Whenever I get this way, I just don't know what to say
Why can't we be ourselves, like we were yesterday?