Acontece da gente se apaixonar. A gente se pega pensando demais na imagem, essa imagem que moldamos a nosso gosto. Seja um livro, um jogo, um disco, uma pessoa, um autor. Nos apaixonamos. Imagino que há explicação neuroquímica para esse estado mental, mas tendo a conjecturar que se trata de um estado de possessão, dada a educação neopentecostal que sofri. Conjecturas: a paixão dos ansiosos não tratados.
Apaixonei-me por uma poetisa uma vez — Florbela Espanca. Dado o seu estado avançado de putrefação, aceito que aquela paixão caía no terreno platônico. Obsessão consumada numa constante engenharia reversa, essa que coloquei para rodar em seus versos, estudando-os com recorrência. Florbela casou-se algumas vezes. Algo que me causou certo ciúme, lá no eu de 20 anos atrás...
Hoje eu amo Florbela. Não há mais sofrimento por ser tão real essa nossa realidade. Não sonho mais ser seu 4° marido. Acontece que tomei ela pelos versos. Sabemos quais dificuldades ela tinha, moderna e feminista que era, naqueles tempos da Primeira Guerra. A amo. Aceito a impossibilidade de tê-la, de pertencer, e fiquei bem; demorei tanto tempo para entender que ter é menor que estar.
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