sábado, 12 de julho de 2025

Nenhum dom

 



 
Sempre que vejo algo rabiscado, sobe-me pela garganta a gastura de voltar a rabiscar qualquer coisa. Mas qualquer coisa não é o bastante para pôr algo em prática.
Hoje é daqueles dias. Daqueles! Uma amiga me lembrou de uma pérola da Rita Lee, daí foi um pulo para pôr a discografia inteira pra tocar, ai, Samyaza! Que luta foi ouvir os discos ruins do Toquinho, caso contrário não iria nem dormir, preciso atender à demanda do meu cérebro ditador. E os discos da Rita são todos bons, né? Nem combinam com esse clima obsidiado...
Esse clima. Vira e mexe caio num vórtice de torpor, some de vista o prazer, a vontade. Fico acabrunhado, moribundo, pensando na morte e em coisa pior, o esquecimento. Então vejo pelo lado positivo, ao menos sei que essa medicação não está mais surtindo efeito...
Por que parei de desenhar? Coincide com o momento da infância em que comecei a escrever, antes um diário, depois versos. Um tipo de terapia instintiva. Acho que não abandonei o desenho abruptamente, foi residual, foi se diluindo em palavras.
Pensando bem ainda desenho, nunca o abandonei, apenas movi meu traço para o plano metafísico, por assim dizer, o que é a poesia senão o desenho de alguém para alguém?

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